Diretor criativo, Adailton Junior dá dicas que misturam o regionalismo brasileiro e a expertise tecnológica da moda europeia.
As passarelas de São Paulo, Milão, Londres e Paris nem sempre se encontram quando o assunto é ditar as tendências da moda. Porém, tanto no Brasil, através de marcas como AREIA, Misci e NORMANDO, quanto na Europa, com MARINE SERRE e Dior, a busca pela identidade é uma constante. Seja no uso de tecidos upcycled, fibras naturais ou peças tecnológicas e de luxo – a troca de influências já ultrapassa as fronteiras internacionais.
Stylists de ambos os continentes têm sido desafiados a criar coleções que dialoguem entre si e reflitam a globalização da moda. A tarefa não é fácil, já que no Brasil as passarelas de São Paulo, Rio, Bahia e Minas são repletas de referências à cultura local, com o uso de materiais sustentáveis e técnicas artesanais. Marcas como Sioduhi, por exemplo, já incorporam fibras de tucum e algodão emborrachado de seringueira nas criações, marcando a era sustentável das coleções brasileiras.
De acordo com o stylist e diretor criativo da marca AREIA, Adailton Junior, a moda brasileira em 2025 é um reflexo da identidade cultural do país e da busca por autenticidade, desde a criação das peças até o produto final. “Estamos vendo uma valorização das nossas raízes, com o uso de materiais locais, técnicas tradicionais e resgate à ancestralidade. Isso não é apenas uma tendência, é uma afirmação da nossa identidade, acompanhada de uma urgência global por uma moda mais sustentável e ecológica. É o que carregamos nas nossas vestes”, afirma.
Por outro lado, as passarelas europeias estão marcadas pelo retorno ao ‘maximalismo’. Marcas como Dolce & Gabbana, Versace e Moschino apresentaram coleções recentes que mesclam opulência, sensualidade e elementos urbanos, criando um visual exuberante e ousado, lembrando a estética clubber dos anos 90 – destaque em 2025. Além disso, outra tendência como a lingerie visível, com sutiãs e corsets expostos, tem ganhado força entre os fashionistas europeus.
Apesar do contraste estético entre os continentes, Adailton Junior observa que há uma busca comum por expressar identidade e personalidade através da moda. “Tanto no Brasil quanto na Europa, os estilistas estão buscando maneiras de se conectar com o público de forma autêntica. A diferença está na forma como isso é expresso: no nosso país, em cada região, é através da nossa cultura e história, resgatando e valorizando nossa biodisponibilidade de matéria prima e mão de obra; Na Europa, os esforços estão concentrados no uso de tecnologia avançada para transformar descartes em moda de luxo e autêntica, que é o caso da MARINE SERRE, design francesa que fez sua última coleção toda com material descartado”, explica o estilista.
Segundo o diretor criativo da marca AREIA, as diferentes tendências servem como termômetro de consumo e oferecem uma oportunidade única para os estilistas criarem coleções que misturam elementos de ambas as culturas. Adailton acredita que a fusão de influências possa resultar em peças inovadoras e impactantes. “Podemos pegar a riqueza cultural brasileira e combiná-la com a expertise tecnológica pioneira em grandes marcas na Europa”, sugere.
Para os estilistas que desejam explorar essa fusão, Adailton recomenda utilizar referências que se aplicam à realidade local de produção e insumos disponíveis. “As tendências europeias chegam de forma avassaladora em todo o mundo e cabe a cada criador, filtrar e absorver o que mais se aproxima com sua identidade e estética. Roupas de frio, que na Europa possuem camadas densas de tecido para baixas temperaturas, podem ganhar tecidos mais leves, como bordados típicos da nossa região, por exemplo”, aconselha.
Além disso, acessórios artesanais com referências nativas podem dialogar com peças estruturadas, como corsets, criando uma sobreposição de camadas visuais que enriquecem o look e carregam narrativas de pertencimento e inovação.
“É possível criar uma moda que respeite a ancestralidade e ainda assim seja contemporânea e ousada. Quando conseguimos equilibrar designers autorais com referências de outros países e regiões, revelamos que a criatividade não precisa escolher lados – ela pode costurar mundos distintos em uma só peça. O resultado é uma moda com alma, que conta histórias, provoca sensações e quebra fronteiras estéticas sem perder suas raízes”, conclui.






